(fan art do jogo Ib)
Sempre
fui um rapaz que nunca se interessava por garotas. Não que eu fosse
homossexual, óbvio que não era, entretanto achava todas as garotas chatas,
irritantes e interesseiras. Apesar disso, eu era bastante popular entre elas e
nunca entendi o motivo. Recebia diariamente vários bilhetes contendo
declarações de amor, minha lixeira ficava lotada de papéis coloridos e
purpurinados, e tudo aquilo me irritava profundamente, me tirava do sério.
Nunca pensei que toda essa minha repulsa por garotas estúpidas mudaria, até ela
entrar em minha vida.
Estava
com a cabeça encostada em minha carteira, os olhos fechados, quase caindo no
sono, quando a porta é aberta abruptamente, causando um pequeno susto. Levantei
a cabeça com o cenho franzido e observei o motivo daquela barulheira. O
presidente de classe entrou na sala com um sorriso irritante nos lábios e sendo
seguido por uma figura feminina. "Maldito! Como ele consegue ser tão
energético?", perguntei-me mentalmente enquanto o mesmo nos informava
sobre a aluna nova. Dirigi meu olhar para a nova aluna e pensei comigo mesmo:
"Diabos! Mais uma garota estúpida para perturbar meu juízo!". O
presidente de classe pediu para que a mesma desse um passo à frente e se
apresentasse.
- Olá,
meu nome é Natália. Por favor, cuidem de mim! - seu olhar estava direcionado
para o chão, sua voz era tão baixa que eu quase não escutei e seu rosto estava
com uma coloração avermelhada. Toda aquela reação da menina me deixou um tanto
quanto impressionado, ela era tão... Diferente. Nossos olhares se cruzaram
brevemente, seu rosto atingiu uma coloração mais avermelhada que antes e voltou
a encarar o chão. A professora, com um sorriso, gentil indicou um lugar para
ela se sentar e com isso o dia continuou sem complicações.
Os dias
passaram preguiçosamente e quanto mais o tempo passava, mais o meu interesse
por aquela simples garota crescia. Comecei apenas me perguntando como ela era
realmente, se aquilo tudo era apenas uma máscara para esconder sua futilidade,
em seguida meus pensamentos estavam focados nela, e por último, me peguei
observando ela várias vezes ao dia e sempre a procurando na multidão. Aquela
simples garota capturou minha atenção, meus pensamentos, penetrou minha alma
com aquele jeito puro e simples de ser, e tudo isso sem nem ao menos ter
dirigido uma única palavra a minha pessoa.
Andando distraidamente
pelo corredor do colégio, com as mãos nos bolsos da calça, senti alguém
esbarrar levemente em meu braço e em seguida uma voz muito baixa me dizer,
quase num sussurro, um pedido de desculpas. Instintivamente segurei seu braço e
fiz com que ela olhasse diretamente para mim, seu olhar era o de uma criança
assustada.
- Você
sabe matemática? - sem saber o que dizer, perguntei-lhe a primeira coisa que me
veio na cabeça, a resposta foi positiva. - Poderia me ajudar a estudar? - sua
expressão era de uma pessoa pensativa, e em seguida, outra resposta positiva. -
Ótimo. No final da aula, me encontre na biblioteca. - soltei seu braço e
continuei meu caminho. Fiquei nervoso e milhares de pensamentos e
questionamentos rodearam minha mente.
“Como vou
me comportar? Por que diabos eu pedi para que ela me ensinasse matemática? Logo
a matéria que eu tiro as melhores notas?”. Eu era um verdadeiro idiota,
imbecil! Suspirei pesadamente e me joguei na cadeira enquanto me perguntava se
tinha algum distúrbio mental. Por que diabos aquela garota mexia tanto comigo a
ponto de me deixar tão confuso?
O tempo
passou num piscar de olhos e a cada passo que eu dava em direção para a
biblioteca, a minha ansiedade aumentava mais e mais. Abri a porta e a encontrei
sentada em uma cadeira, seu semblante era calmo e me transmitia paz, me deixava
tranquilo. Sentei-me em sua frente e esperei que ela começasse a aula de
matemática. Perguntou quais eram minhas dúvidas, inventei alguma coisa, e ao
invés de me concentrar no que ela falava, me concentrei no seu tom de voz, nas
caras e bocas que ela fazia, o modo como ajeitava o cabelo e estalava os dedos
de vez em quando. Sentia-me hipnotizado pela singela beleza dela, e quando
nossos olhares se encontraram, senti meu coração acelerar.
Os meses,
os anos, foram passando e a cada dia eu me encantava por ela cada vez mais,
conhecia sua real personalidade e me apaixonava mais e mais. Finalmente eu
havia encontrado alguém diferente, alguém capaz de fazer meu coração acelerar,
alguém que me fez conhecer o verdadeiro significado da palavra amor, e isso me
deixava tão feliz que eu me sentia no céu, flutuando por entre as nuvens.
~ X ~
Diego
enfim fechou o caderno e largou a caneta em cima da mesa. Massageou as têmporas
e soltou um suspiro. Sua esposa percebendo sua agitação, perguntou-lhe se havia
acontecido algo.
-
Aconteceu! Este texto está horrível! Queria que ele ficasse perfeito! – sentiu
então braços envolvê-lo num delicioso abraço.
- E por
que ele tem que ser tão perfeito assim?
- Porque
nele eu conto a forma em que nos conhecemos, a forma em que me apaixonei por
você, e como você me mudou, me fazendo acreditar no amor. – os olhos da moça
ficaram marejados, enquanto seu marido dizia tais palavras. Era raro ele
demonstrar seus sentimentos, mas quando o fazia, sentia que seu corpo perdia as
forças com a intensidade de suas palavras e seu olhar. Apertou mais seus braços
em torno do corpo dele e tentou transmitir tudo o que sentia. E ele
apenas aproveitou os braços finos e macios a envolvê-lo, enquanto pensava no
desfecho perfeito para sua história.