Obs.: Não escrevi esse texto com o propósito de gerar discussões sobre religião. Peço que não me critiquem. Obrigada!
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A música mais bela que eu já tinha escutado tocava ao fundo, meu pai segurava um de meus braços e eu podia sentir o nervosismo. As grandes portas se abriram, aquela igreja estava muito bela com aquele grande tapete vermelho e flores ao lado do banco. Pequenas crianças entraram com belos vestidos e jogavam flores no chão, davam passos pequenos e demasiado lentos. Minhas duas melhores amigas estavam ao meu lado, esperando as belas crianças chegarem ao fim para finalmente entrarem lentamente.
Eu podia ver uma delas quase chorando de emoção, só que infelizmente ela se negava a chorar, achava que isso era para fracos e queria provar a todo o momento que era forte como uma pedra. Usavam vestido roxo e abaixo do joelho com um pequeno decote em V, começaram a "desfilar" por aquele longo tapete vermelho.
Logo terminaram e finalmente começou tocar a minha música. Entrei junto de meu pai, dava passos lentos numa tentativa de acompanhar a música. Podia ver as pessoas ali sorrindo felizes por mim, algumas mulheres choravam, enquanto os homens diziam que aquilo era pura bobeira, embora poucas lágrimas teimassem em sair de seus olhos. Finalmente cheguei ao fim daquele tapete e meu pai me entregou ao homem de minha vida. Ele estava tão belo de smooking... E finalmente o padre começou a cerimônia.
Não durou muito tempo, o idoso homem dizia algumas palavras, eu tentava ouvi-las, mas só ouvia algumas pessoas falando que ele usava uma peruca. Não demorou muito e eu já havia dado uma pequena risada que graças aos céus ninguém percebeu. Após alguns minutos aquele Senhor idoso nos olhou com doçura e perguntou se ambos nos aceitavam como legítimos esposos. Em seguida anunciou que ele finalmente podia me beijar. Ele levantou meu véu delicadamente e deu um beijo suave em meus lábios. Saímos da Igreja, as pessoas jovagam alguns grãos de arroz em cima de nós dois. Eu estava feliz, mais feliz do que se pode imaginar.
Entramos no carro e fomos até o salão de festa que estava na outra esquina. Eu recebia parabéns e pessoas que me desejavam felicidades. Comíamos, dançávamos e nos divertíamos. Havia notado que minhas melhores amigas haviam sumido e quando menos se esperava as luzes se apagaram e um telão apareceu descendo do teto. Um fio de luz iluminava uma porta e de lá saíram elas, passaram algumas fotos no telão, vídeos de quando éramos adolescentes e tocava uma bela música que falava sobre amizade. No fim, as duas pegaram um microfone para cada e um pedaço de papel. Ambas começaram a dizer belas palavras, palavras que nunca havia ouvido de nenhuma delas. Palavras que nunca ninguém ousou em dizer para mim. Palavras que me deixaram mais emocionada do que eu já estava.
Acabaram e me deram um longo abraço, desejaram toda a felicidade deste mundo, pois eu merecia. O tempo passou rápido, muito rápido e logo todos estávamos cansados. Parti o grande bolo e nos despedimos. Entrei num carro elegante ao lado de meu marido, fomos para a auto-estrada para chegar logo no aeroporto e pegar nosso avião para França. Só que já era de madrugada, não havia ninguém na estrada. Até que num piscar de olhos surgiu um caminhão em alta velocidade e nos atingiu em cheio. A última coisa de que me lembro eram as sirenes, pessoas ao meu redor e alguns bombeiros dizendo que meu marido havia ficado preso nas ferragens com alguns ossos quebrados e uma grave hemorragia interna. Minha vista escureceu rapidamente e eu não me lembro de mais nada.
Acordei em uma cama macia e confortável, o quarto era branco e ouvia alguns barulhos de aparelho, minha visão ainda estava embaçada. Logo minha visão melhorou e podia enxergar alguns balões coloridos, flores nas janelas e ursos de pelúcia espalhados pelo quarto, o que mais me chamou a atenção era um grande cachorro de pelúcia no canto daquela sala. Ouvi a porta se abrir lentamente, olhei para uma mulher vestida toda de branco, usava um coque ajeitado e quase nenhuma maquiagem.
Ela caminhou lentamente até mim e perguntou se eu estava bem. Contei que sentia um pouco de dor de cabeça, entretanto não era algo tão grave. Perguntei se havia alguém de minha família ali presente, aquela jovem moça disse que só estava uma mulher que estava há uma semana na sala de espera, perguntando por mim. A jovem moça saiu do quarto, ouvi vozes do lado de fora e logo entraram duas pessoas, um homem e uma de minhas melhores amigas.
Estava com profundas olheiras, sinal de que quase não dormia, um copo de café na mão e um pequeno sorriso de alívio. Caminhou até mim e beijou minha testa, logo apertou minha mão e se sentou ao meu lado.
- Graças aos céus que você acordou! - disse ela. - Estava tão preocupada com você, Lúcia. - continuou. Eu sorri e segurei sua mão firmemente. Gostava tanto da companhia dela, sempre esteve ao meu lado, mesmo quando brigávamos.
- Você está péssima Adriana. - eu disse com um sorriso, ela riu. Logo lembrei do acidente. - Onde está Paulo? - logo o sorriso dela desapareceu.
- Não creio que possa dizer algo para você. - ela fitou meus olhos, fiquei olhando para ela tentando obter alguma resposta. - Tudo bem, eu digo, mas a situação não é a das melhores. Paulo perdeu muito sangue e está em coma, seu estado é grave, entretanto ainda conseguem mantê-lo vivo de alguma forma. - disse ela abaixando o olhar. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Aconteceu tudo tão rápido, logo no momento mais feliz de minha vida...
Após uma semana recebi alta, fui morar no apartamento o qual havíamos comprado para morarmos. O tempo passou e não havia nenhuma melhora no estado de saúde de Paulo. Minha melhor amiga tentava me distrair, tentava me fazer sorrir, eu sorria. Entretanto, não conseguia deixar de demonstrar minha preocupação e meu princípio de depressão.
Ela vinha até minha casa e me contava às coisas que haviam acontecido enquanto eu ainda estava de recuperação no hospital. Descobri que o belo rapaz era um novo amigo, ele era médico que trabalhava naquele hospital e fazia de tudo para que minha amiga fosse dormir em casa, mas nada naquele mundo fazia ela sair daquele hospital. Contou que uma grande amiga nossa havia morrido e que minha outra melhor amiga havia viajado para o sul, assistir ao velório de sua avó...
E foi assim que as semanas se passaram. Até que em uma bela noite acordei de madrugada para fazer um lanche, e vi Paulo no meio da sala próximo a cozinha observando os quadros pendurados na parede.
- Paulo! - eu gritei, ele rapidamente olhou para mim e abriu seus braços. Corri para lhe dar um abraço e passei por seu corpo, batendo de cara na parede. Minha testa estava dolorida e eu não estava entendendo nada. Recompus-me e olhei para ele imóvel. Tentei tocar seu rosto só que meus dedos penetraram em sua pele. Não era possível! Como ele podia ser um fantasma se estava vivo.
- Lúcia. - disse ele. - Não sei o que está acontecendo. Num momento estava tudo escuro e de repente acordei aqui. - ele continuou, tentou se aproximar de mim, com receio, recuei. - Luca, por favor, me ajuda! - aquele era definitivamente o Paulo, me chamava de Luca sempre quando eu estava assustada, com medo.
Desesperada, liguei para Adriana e lhe contei o que estava acontecendo. Ela disse que às vezes quando as pessoas estão em coma o espírito se desliga do corpo, percebe tudo o que acontece em sua volta e às vezes são levados para alguns lugares em forma de aprendizado. Eu ainda estava muito assustada com aquilo tudo, nunca havia acreditado que era possível e naquele momento percebi que existem coisas que nem imaginamos. Sentei no sofá, Paulo veio e sentou-se junto de mim. Comecei a fazer algumas perguntas, quando pude perceber já estávamos conversando...
O tempo passou. Havia me acostumado com o estado em que Paulo estava. Ficávamos sentados um do lado do outro, conversando sobre algumas coisas, coisas inúteis e que ainda assim teimávamos em conversar. Ficava madrugada adentro conversando com ele, não sentia necessidade de beijá-lo, muito menos de tocá-lo, só a presença dele era suportável. De manhã ia até a casa de Adriana conversar com ela, contar tudo o que havíamos conversado durante a madrugada. Eu sabia que Adriana era a única que não iria rir de mim e era a única em que eu podia confiar minha conversar com Paulo.
Até que em uma noite, enquanto tomava meu banho senti algo sendo roubado de mim, nenhum bem material, e sim algo que estava dentro de meu coração. No momento nem dei importância, saí do banho e me arrumei sentindo aquela tristeza inexplicável. Sentei no sofá e fiquei esperando Paulo aparecer para conversar. Esperei alguns minutos, ainda não havia aparecido. Esperei algumas horas, ainda não havia aparecido. Estava ficando com medo e assustada. Até que eu recebo uma ligação.
- É da casa da Sra. Lúcia? - perguntou uma voz fina e leve. - Preciso lhe informar sobre Paulo. - continuou. - Antes preciso que a Senhora sente em seu sofá. - eu já estava ficando com medo, além do medo sentia uma leve pontada de esperança, avisei que já havia sentado, embora fosse mentira. - Sinto lhe informar, mas seu marido faleceu há algumas horas. - terminou.
Naquele momento minhas pernas falharam e eu caí sentada, minha respiração estava acelerada, minha vista escurecia e lágrimas infinitas escorriam de meus olhos. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Não, não podia. Aquilo não podia ser verdade. Ouvi batidas em minha porta, estava tão desesperada que não conseguia dizer nada, a porta se abriu e pude sentir uma pessoa se ajoelhar ao meu lado e me abraçar, me consolando.
Chorava desesperadamente, meu coração doía muito. Até que em algum momento, jurava ter ouvido a voz de Paulo bem longe me dizendo: "Sempre estarei ao seu lado". E naquele momento pareceu que tudo havia se acalmado, rapidamente caí no sono nos braços de Adriana. E dormi, dormi como nunca.
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Adriana levou Lúcia até sua cama, pegou alguns lençóis e dormiu. Aquela noite havia sido horrível. Acordou de manhã com lágrimas teimosas saindo de seus olhos. Viu Adriana dormindo no sofá desconfortavelmente. Tomou um banho, ainda estava em lágrimas. Quando foi escovar seus dentes, sentiu um enjôo forte, uma vontade de vomitar incontrolável.
Após alguns meses descobriu que estava grávida de Paulo. Pouco antes de seu casamento, haviam tido uma relação sexual. Esperava um filho de Paulo, um fruto do amor dos dois. Uma criança que iria amar com todas as suas forças e se recordou das últimas palavras de Paulo "Sempre estarei ao seu lado" e realmente estava cumprindo sua promessa com aquela criança que estava por vir.
quarta-feira, 2 de março de 2011
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