Eu sempre odiei o Natal e nunca soube o porquê. Talvez fosse porque eu odiava os sorrisos falsos na troca dos presentes, ou talvez fosse por causa das músicas natalinas, que me deixavam louca. Como eu disse antes, eu realmente não sei. Não venha me julgar! Eu não odeio Jesus, pelo contrário, eu o amo. E não é por causa dele que eu fico indignada, e sim por causa dos humanos que fazem um monte de coisas, menos seguir os ensinamentos dele. Bom, eu não vim aqui para falar sobre o meu problema particular com o Natal e sim o que aconteceu no último.
Era véspera de Natal, já estava tarde da noite e eu estava voltando da casa de uma amiga. Estava muito frio, a rua estava totalmente deserta, temia que pudesse ser assaltada por algum moleque armado. Por causa disso, ao invés de andar, eu praticamente corria, desesperada para chegar em casa, e foi por causa desse desespero que eu não reparei num homem que estava bem na minha frente. Fui com tudo para cima dele, quase nos derrubei no chão, a nossa sorte foi que eu era (e sou) bastante leve e ele um rapaz com um bom reflexo.
Após o “pequeno” susto ele me olhou e perguntou se eu estava bem e o que tinha acontecido para ter ficado tão desesperada. Olhei bem nos olhos dele, sentia meu rosto arder de vergonha e pedi desculpas pelo terrível incidente, ele apenas sorriu e disse que era para ter mais cuidado. Eu apenas agradeci pelo aviso e reparei que eu o conhecia de algum lugar, só não lembrava qual. Ele também ficou me olhando como se me conhecesse e após um ou dois minutos ele deu um sorriso e me abraçou.
Tomei um pequeno susto e perguntei-lhe se ele estava maluco ou doente. Ele deu mais um sorriso e perguntou se eu lembrava dele, apenas neguei com a cabeça e finalmente fiquei sabendo de seu nome. Ele era o meu querido Gabriel Gomez, um amigo com quem eu estudei até a faculdade e por quem eu ficara completamente apaixonada. Só que ele estava tão diferente! Ele havia pintado o cabelo de preto, tirado os óculos e colocado lentes, começado a malhar e consertado os dentes. Estava tão diferente que eu nem sabia se era realmente ele, só tive a certeza de que era ele quando o meu coração bateu forte como sempre fazia.
Abracei-o mais forte que pude, sem pensar que fazendo aquilo poderia fazê-lo perceber o que eu sentia e comecei a conversar, contando todas as minhas novidades e ouvindo as dele. Puxei-o para um banco que tinha ali perto e ficamos conversando durante alguns minutos. Ele havia me dito que estava louco me procurando, pois queria falar urgentemente comigo e também disse que até pediu meu e-mail para minha mãe, mas a coitada disse que não fazia ideia do que era aquilo.
Papo vai, papo vem e com isso o tempo passou rápido demais, olhei para o relógio e vi que tínhamos ficado mais de uma hora conversando e disse para ele que precisava ir embora. Acompanhou-me até em casa para me proteger e também para aprender o caminho. Já em frente a minha porta, dei meu telefone e nos despedimos com um abraço.
Enquanto rolava pela minha cama tentando dormir, eu lembrava daquele pequeno encontro que havia feito meu coração quase pular para fora de meu corpo de tanta alegria. Também lembrava de todos os nossos momentos juntos, todas as besteiras e maluquices que fazíamos. E para dar um fim a todas aquelas lembranças, eu finalmente lembrei de como ele me fazia sentir. Ele me fazia sentir importante, especial e amada, e foi por causa disso (e por muitos outros motivos) que eu me apaixonei por ele e naquele momento pareceu que a paixão havia voltado junto com as lembranças.
Após todas essas lembranças eu finalmente pude dormir em paz, tendo uma noite sem sonhos. Quando acordei novamente sentia-me jovem, quer dizer, sentia-me adolescente. E, apesar de ser Natal, eu estava feliz. Fiz minhas coisas costumeiras e quando deu 12:00 minha querida mãe me ligou dizendo que era para eu ir a casa dela, disse também que se eu não fosse ela iria morrer e eu iria me arrepender. Sem outra escolha, me arrumei e fui até lá.
Chegando lá, vi que ela tinha feito um enorme almoço e tinha convidado muita gente, eu como sempre fui um pouco anti-social, fiquei horrorizada. Para minha sorte (ou azar), Gabriel também havia sido convidado, então eu passei quase o almoço inteiro perto dele. Após o almoço eu disse que precisava ir embora e perguntei se o Gabriel gostaria de me acompanhar, pois eu precisava falar em ele, ele aceitou e lá fomos nós a caminho de minha casa.
Conversávamos animadamente até que eu lembrei que ele havia me dito que precisava falar comigo, perguntei-lhe o que era e ele me disse que poderia falar uma outra hora. Eu sabia que ele estava mentindo, entretanto, se ele não queria me contar, o que eu poderia fazer? Isso mesmo! Insistir! Eu fiquei insistindo até ele bufar e me contar. Consegui, mas fiquei muito abalada.
Gabriel apenas olhou-me no fundo dos meus olhos e disse que sentia algo por mim. Contou-me que no dia de nossa formatura minha melhor amiga havia perguntado para ele o que o mesmo sentia por mim, ele respondeu que sentia algo especial, só que achava que não era correspondido. Minha amiga bateu-lhe na cabeça e disse que eu sentia o mesmo, disse também que se ele corresse para o aeroporto tinha chances de me pegar, antes que eu entrasse no avião. Infelizmente era tarde demais, eu já havia embarcado, rumo a Espanha, onde passaria quatro ou cinco anos.
Enquanto ouvia isso o meu coração saltitava, dava pulos e rodopios de alegria. Sentia-me nas nuvens até o momento em que eu fiz o favor de pergunta-lhe se ele ainda sentia o mesmo. Ele abaixou a cabeça e disse um “sinto muito”, com isso o meu coração quase parou e senti meu corpo caindo direto no chão e se quebrando como um espelho, meu mundo parecia ter caído e sentia as lágrimas querendo cair.
Por medo de que me visse chorar, virei para ir embora e corri, corri o mais rápido que pude até minha casa, sentia alguém correndo atrás de mim e mesmo com medo de ser algum assaltante, eu não me importei. Continuei correndo até que uma pedra entrou no meio do meu caminho e me fez cair no chão. Fiquei com muita raiva e tive vontade de xingar o mais alto que podia, infelizmente eu não consegui por causa da dor.
Alguém me levantou e perguntou-me se eu estava bem, perguntei-lhe se estava cego e se não podia ver que eu estava me contorcendo de dor. A pessoa disse que eu não havia mudado, que continuava a mesma velha chata e apressada, que nunca deixava os outros terminar uma frase e já tirava conclusões precipitadas. Olhei para ele e vi que ele sorria, perguntou-me se podia terminar a frase a partir do “sinto muito”, respondi que se era para me humilhar mais ele poderia parar por ali. Ele apenas riu e disse as seguintes palavras:
- “Eu iria dizer que eu sinto muito, pois o que eu sentia antes era algo que não chegava aos pés do que eu sinto agora, era algo tão pequeno como uma formiga, mas agora é bem maior que um elefante. Também iria te perguntar se você sentia o mesmo, contudo você foi mais apressada e saiu correndo igual a uma maluca. Acho que você faria sucesso se fosse atleta!”
Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo, era um turbilhão de sentimentos dentro de mim, sentimentos como amor, raiva, alegria e tristeza. Aproximou-se de mim, pensei que iria me beijar e mais uma vez ele me surpreendeu, ao invés de me beijar, me abraçou. Arregalei os olhos por algum tempo e o abracei o mais forte que eu pude. O resto você já sabe.
E apesar de odiar o Natal, aquele havia sido o melhor Natal de todos. Acho que finalmente fui uma boa menina naquele ano...
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