Hoje eu me lembrei de você. Faz pouquíssimo tempo que você
partiu, entretanto parece que tudo o que vivi contigo, todas as memórias, foram
apenas um sonho, uma ilusão, e que dificilmente conseguirei viver novamente. As
únicas coisas que me provam que aquilo foi real são as lembranças, as fotos, os
vídeos; é difícil esquecer alguém como você, das suas manias, das suas
brincadeiras, de suas palhaçadas. E provavelmente não esqueceremos isso tão
cedo.
Para mim você era uma pessoa chata e irritante, que me
chamava nos piores momentos. Bastava eu me sentar para jogar algo, ou escrever,
que você me chamava e isso me deixava extremamente irritada! Outra coisa que me
irritava era o fato de que você reclamava muito, passava horas e horas reclamando,
aquilo me enlouquecia! Ah, você também era muito agitado! Sempre fui uma pessoa
de dormir tarde, entretanto conseguia dormir mais cedo que você. Tinha noites
em que você deitava cedo, mas alguns minutos depois já era possível ouvir seus
passos pesados ecoando pela casa silenciosa.
Você era barulhento ao extremo! Falava alto, deixava o
volume da TV tão alto que podia se ouvir da rua e brincava com a cadela num
volume de voz altíssimo. Você também adorava roubar meus doces! Era eu ficar
com vontade de comê-los que descobria que você já os havia comido, contudo,
quando eu lhe dava, o doce rolava por dias na geladeira até estragar. Ainda me
lembro do dia em que acordei durante a noite e pude vê-lo entrando em meu
quarto, apenas de cueca, com seus cabelos separados em pequenos tufos, e você
tentava abrir a porta de meu armário de modo silencioso e finalmente pegava o
que queria: meu biscoito. Eu ri muito depois disso.
Eu adorava as caras que você fazia quando eu te sacaneava,
adorava seu sorriso feliz quando escutava suas músicas e as pessoas apreciavam
também não posso me esquecer da sua cara de sapeca quando fazia alguma
brincadeira. Contudo, quando você nos dava uma bronca, ficava muito assustador.
Eu gelava todas às vezes.
Entretanto nada teu ficou. Somente a saudade. A saudade dos
teus passos pela casa, a saudade da tua voz alta, das suas manias, dos seus
jeitos e até dos meus doces roubados (que na verdade era você quem os
comprava).
Só me arrependo de nunca ter te dado o valor. Não ter te
abraçado, não ter dividido meus doces, não ter sido uma filha digna. Arrependo-me
por ter sido extremamente egoísta contigo. Mas eu quero que saiba que eu te amo
e que sinto sua falta.