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Despertei sentindo um suave afago em minha cabeça e uma
deliciosa brisa balançando minhas roupas ao seu ritmo. Ao abrir os olhos, tive
que cobri-los novamente devido à claridade do ambiente, mas logo me acostumei e
quando os abri de novo, a primeira coisa que vi foi belas pétalas de cerejeira
em flor caindo lentamente. Levantei levemente o braço, desejando que uma delas
caísse em minha mão, contudo tal coisa não aconteceu. Abaixei novamente o braço
e me pus a pensar.
Continuei imersa em meus pensamentos até o afago cessar.
Sem entender o porquê, olhei interrogativamente para cima, diretamente para a
origem do afago. Ele apenas esboçou um belo sorriso e por um instante eu passei
a observá-lo. Seu rosto tinha feições angelicais, seu sorriso era, com certeza,
o mais bonito que eu havia visto em toda minha vida e seu olhar era doce, muito
doce e gentil. Para deixá-lo ainda mais bonito, do ângulo em que eu estava, era
possível ver a grande cerejeira em flor ao fundo. A visão que eu estava tendo
era digna de uma grande pintura.
Uma nova corrente de vento se formou e eu pude ver seus
belos cabelos negros balançando ao ritmo dele, e as flores da cerejeira o
acompanhava. Por um momento, senti minha respiração falhar e meu coração
acelerar levemente. Aquela era, com toda a certeza, a coisa mais linda que eu
já havia visto e viria em toda minha vida. Não há palavras para descrever
tamanha perfeição. Era, simplesmente, lindo.
Após algum tempo observando-o, desviei meu olhar para
outro lugar, e senti meu rosto aquecer, provavelmente estava ficando
avermelhado. Ah! Como eu odiava as sensações que ele me trazia! Suspirei
cansada e disse-lhe:
- Por que paraste? – o olhei novamente e ele esboçou mais
um sorriso. – Qual é a graça?
- Parei porque se continuasse você passaria o resto do
dia deitada. E isto é algo que eu não quero. Temos um longo dia pela frente,
esqueceu? – suspirei novamente e desta vez ele soltou uma risada gostosa.
- Ah! Eu preferia passar o dia inteiro aproveitando seu
carinho! – disse enquanto meus lábios formavam um leve bico. Ele riu novamente
e bagunçou levemente meus cabelos.
- E o nosso passeio? Vamos! Levante-se. Chega de
preguiça. – sem outra escolha, sentei-me e me espreguicei. Enquanto isso ele se
levantou e estendeu sua mão para me ajudar a realizar tal ato. Assim que me
levantei, passei a mão pelas minhas roupas, limpando-as, para em seguida
enlaçar meu braço ao dele e darmos início ao nosso passeio.
Caminhávamos lentamente e conversávamos sobre coisas
triviais, enquanto aproveitávamos a bela visão que as árvores nos
proporcionavam. Era engraçado o quanto eu me sentia bem ao lado dele. Uma
sensação indescritível. Infelizmente eu raramente podia sentir isso, raramente
tinha a oportunidade de desfrutar de sua companhia, e, embora eu desejasse
vê-lo todos os dias, sentir sua presença ao meu lado, aquilo não era possível e
nunca seria.
Com esses pensamentos negativos pairando em minha mente,
deixe-me desanimar durante a caminhada, o que não passou despercebido por ele,
que imediatamente perguntou-me o que houve. A resposta demorou um pouco para ser
formulada e mais um pouco para ser proferida, pois me perdi em seus lindos
olhos recheados de preocupação que me olhavam de soslaio. Meu coração encheu-se
de alegria ao saber, novamente, que ele se preocupava comigo e com o meu
bem-estar. Era bom sentir-se querida.
Ao notar a demora pela resposta, ele então parou de andar
e encarou-me, esperando que eu abrisse a boca. Foi então que uma pequena
batalha se formou em minha mente. Contava-lhe a verdade, ou apenas mentia
dizendo que não era nada?
- Queria poder passar mais tempo contigo. – disse-lhe
enfim. Seu olhar abaixou levemente, e, sem dizer nada, ele simplesmente me
abraçou. Escondi meu rosto em seu peito e segurei ao máximo minhas lágrimas,
que ameaçavam cair.
- Eu também, minha querida, eu também. – ao terminar,
depositou um leve beijo em minha testa, para em seguida desfazer o abraço e
segurar levemente meu queixo, obrigando-me a olhar em seus olhos. – Mas, vamos
tentar não pensar nisto hoje? Tudo bem? – assenti e ele logo esboçou mais um de
seus lindos sorrisos que faziam meu coração disparar. – Agora, vamos, temos um
longo caminho pela frente.
- Afinal, aonde vamos?
- É surpresa! – e deu-me um sorriso travesso. Eu não
gostava muito de surpresas, pois nunca sabia como reagir, mas, já que era ele
quem estava fazendo, eu realmente não me importava com isto.
Continuamos nossa caminhada e pude notar que o céu
começava a obter um tom alaranjado. Pôr-do-sol. Uma cena linda e triste ao
mesmo tempo, afinal logo eu teria que voltar para casa e sabe-se lá Deus quando
eu o veria novamente. E, novamente, pensamentos desanimadores voltaram a pairar
minha mente, todavia eu não me deixei desanimar, iria aproveitar ao máximo o
restante de dia que teria com ele.
Caminhamos mais um pouco, até ele finalmente pedir uma
pequena parada. Sentamos novamente na grama macia e voltamos a observar as
árvores graciosas, enquanto contávamos piadas alegres e inocentes. O tempo logo
passou rápido e as estrelas já começavam a aparecer. Assim que o céu ficou
completamente estrelado, ele pediu para que retomássemos a caminhada.
Andamos por debaixo de mais algumas árvores, atravessamos
uma pequena ponte com direito a uma parada no meio dela, para observamos o
local em volta. Após isto, continuamos nossa caminhada, passando por um caminho
estreito e com muito mais árvores. Avistamos uma montanha e encontramos um
pequeno caminho feito de pedras que nos levava para o topo dela.
- Vamos subir! – disse-me, estendendo sua mão para me
ajudar. Aceitei delicadamente, embora não achasse necessária a ajuda. Seguimos
o pequeno caminho de pedra e quando finalmente chegamos ao topo da montanha,
ele anunciou. – Chegamos.
Olhei em volta. Havia uma enorme cerejeira em flor
exatamente no meio da pequena montanha, e de lá de cima era possível ver todo o
parque. Parecia que todas as árvores juntavam-se em uma só, uma cena linda.
Outra cena digna de uma lindíssima pintura. Ah, quem era eu tivesse esse dom!
Teria criado milhares de telas só naquele dia.
Sentei-me em baixo da grande árvore e observei toda a
paisagem atentamente, como se ao menos pudesse criar uma tela mental, e pudesse
guarda-la eternamente em minha mente, embora soubesse que algum dia esqueceria.
Absorta olhando para a paisagem, nem reparei quando ele sentou-se ao meu lado.
Somente notei sua presença, quando me perguntou o que havia achado.
- Não gostei! Amei. É lindo! Obrigada por me dar a
oportunidade de conhecer este lugar! – mostrei-lhe o mais belo dos sorrisos que
eu conseguia fazer, ele sorriu em resposta e afagou novamente o topo de minha
cabeça. Assim que o mesmo terminou o ato de carinho, apoiei minha cabeça em seu
ombro e comecei brincar levemente com sua mão, entrelaçando nossos dedos.
E então, o silêncio reinou. A hora de voltarmos estava se
aproximando e nenhum dos dois tinha coragem de comentar sobre tal coisa e
iniciar a sessão de despedida, contudo ambos sabíamos que uma hora teria de
acontecer. E a hora havia chegado.
- Está tarde. – comentei tristemente e o olhei novamente.
Sem dizer, nada, apenas assentiu.
- Já está na hora de irmos. – disse-me após alguns
segundos de um silêncio perturbador. Assenti levemente.
Levantamo-nos então e nos abraçamos fortemente. A
despedida era, definitivamente, a pior parte e nenhum dos dois era forte o
suficiente para ela. Lágrimas começaram a escorrer por meus olhos, mesmo que
sem minha permissão. Seus braços se estreitaram ainda mais ao redor de meu corpo.
Era difícil, mas estava na hora.
- Quando o verei de novo? – perguntei em voz baixa.
- Não faço ideia. Mas espero que seja em breve.
- E quando terei a oportunidade de conhecê-lo no mundo
real?
- Ah, isto teremos que esperar ainda mais. Mas, relaxe,
ainda nos encontraremos, é só questão de tempo.
- Queria que fosse logo.
- Eu também, mas não podemos nos apressar, Deus tem tudo
programado. – disse-me antes de finalmente nos separar, em seguida depositou um
beijo em minha testa. – Tchau, minha pequena flor. Lembre-se sempre que eu te
amo e sempre irei te amar.
Após estas palavras, minha visão escureceu completamente,
como num desmaio, e um barulho estridente se fez presente. Estiquei meu braço
e, com força, desliguei meu despertador. Sentei-me na cama, enquanto coçava
preguiçosamente meus cabelos. Eram 06h da manhã.
Suspirei cansada, enquanto me preparava psicologicamente
para mais um dia de trabalho. E, enquanto tomava café da manhã, pensava em mais
um sonho que eu havia tido com o mesmo rapaz de sempre. Era incrível o quanto
aqueles sonhos eram reais, e eu quase acreditava que aquilo estava acontecendo
e que aquele rapaz realmente existia. E por algum motivo sobrenatural meus
sonhos com ele sempre me faziam muito bem, pois eu me sentia realmente amada,
coisa que eu nunca senti e iria sentir aqui, no mundo real.
Para ser sincera, eu realmente esperava que todos aqueles
sonhos com ele pudessem ser reais, esperava que ele existisse, e que sua
promessa de que um dia nos encontraríamos fosse cumprida.
Contudo, lá no fundo, eu sempre soube que tudo aquilo,
inclusive as sensações e os sentimentos, nada mais eram que sonhos.
Simples sonhos de uma mulher solitária.