quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pequeno passeio

Postado por Unknown às 20:15

(Link da imagem: http://www.zerochan.net/1849909)

Despertei sentindo um suave afago em minha cabeça e uma deliciosa brisa balançando minhas roupas ao seu ritmo. Ao abrir os olhos, tive que cobri-los novamente devido à claridade do ambiente, mas logo me acostumei e quando os abri de novo, a primeira coisa que vi foi belas pétalas de cerejeira em flor caindo lentamente. Levantei levemente o braço, desejando que uma delas caísse em minha mão, contudo tal coisa não aconteceu. Abaixei novamente o braço e me pus a pensar.

Continuei imersa em meus pensamentos até o afago cessar. Sem entender o porquê, olhei interrogativamente para cima, diretamente para a origem do afago. Ele apenas esboçou um belo sorriso e por um instante eu passei a observá-lo. Seu rosto tinha feições angelicais, seu sorriso era, com certeza, o mais bonito que eu havia visto em toda minha vida e seu olhar era doce, muito doce e gentil. Para deixá-lo ainda mais bonito, do ângulo em que eu estava, era possível ver a grande cerejeira em flor ao fundo. A visão que eu estava tendo era digna de uma grande pintura.

Uma nova corrente de vento se formou e eu pude ver seus belos cabelos negros balançando ao ritmo dele, e as flores da cerejeira o acompanhava. Por um momento, senti minha respiração falhar e meu coração acelerar levemente. Aquela era, com toda a certeza, a coisa mais linda que eu já havia visto e viria em toda minha vida. Não há palavras para descrever tamanha perfeição. Era, simplesmente, lindo.

Após algum tempo observando-o, desviei meu olhar para outro lugar, e senti meu rosto aquecer, provavelmente estava ficando avermelhado. Ah! Como eu odiava as sensações que ele me trazia! Suspirei cansada e disse-lhe:

- Por que paraste? – o olhei novamente e ele esboçou mais um sorriso. – Qual é a graça?

- Parei porque se continuasse você passaria o resto do dia deitada. E isto é algo que eu não quero. Temos um longo dia pela frente, esqueceu? – suspirei novamente e desta vez ele soltou uma risada gostosa.

- Ah! Eu preferia passar o dia inteiro aproveitando seu carinho! – disse enquanto meus lábios formavam um leve bico. Ele riu novamente e bagunçou levemente meus cabelos.

- E o nosso passeio? Vamos! Levante-se. Chega de preguiça. – sem outra escolha, sentei-me e me espreguicei. Enquanto isso ele se levantou e estendeu sua mão para me ajudar a realizar tal ato. Assim que me levantei, passei a mão pelas minhas roupas, limpando-as, para em seguida enlaçar meu braço ao dele e darmos início ao nosso passeio.

Caminhávamos lentamente e conversávamos sobre coisas triviais, enquanto aproveitávamos a bela visão que as árvores nos proporcionavam. Era engraçado o quanto eu me sentia bem ao lado dele. Uma sensação indescritível. Infelizmente eu raramente podia sentir isso, raramente tinha a oportunidade de desfrutar de sua companhia, e, embora eu desejasse vê-lo todos os dias, sentir sua presença ao meu lado, aquilo não era possível e nunca seria.

Com esses pensamentos negativos pairando em minha mente, deixe-me desanimar durante a caminhada, o que não passou despercebido por ele, que imediatamente perguntou-me o que houve. A resposta demorou um pouco para ser formulada e mais um pouco para ser proferida, pois me perdi em seus lindos olhos recheados de preocupação que me olhavam de soslaio. Meu coração encheu-se de alegria ao saber, novamente, que ele se preocupava comigo e com o meu bem-estar. Era bom sentir-se querida.

Ao notar a demora pela resposta, ele então parou de andar e encarou-me, esperando que eu abrisse a boca. Foi então que uma pequena batalha se formou em minha mente. Contava-lhe a verdade, ou apenas mentia dizendo que não era nada?

- Queria poder passar mais tempo contigo. – disse-lhe enfim. Seu olhar abaixou levemente, e, sem dizer nada, ele simplesmente me abraçou. Escondi meu rosto em seu peito e segurei ao máximo minhas lágrimas, que ameaçavam cair.

- Eu também, minha querida, eu também. – ao terminar, depositou um leve beijo em minha testa, para em seguida desfazer o abraço e segurar levemente meu queixo, obrigando-me a olhar em seus olhos. – Mas, vamos tentar não pensar nisto hoje? Tudo bem? – assenti e ele logo esboçou mais um de seus lindos sorrisos que faziam meu coração disparar. – Agora, vamos, temos um longo caminho pela frente.

- Afinal, aonde vamos?

- É surpresa! – e deu-me um sorriso travesso. Eu não gostava muito de surpresas, pois nunca sabia como reagir, mas, já que era ele quem estava fazendo, eu realmente não me importava com isto.

Continuamos nossa caminhada e pude notar que o céu começava a obter um tom alaranjado. Pôr-do-sol. Uma cena linda e triste ao mesmo tempo, afinal logo eu teria que voltar para casa e sabe-se lá Deus quando eu o veria novamente. E, novamente, pensamentos desanimadores voltaram a pairar minha mente, todavia eu não me deixei desanimar, iria aproveitar ao máximo o restante de dia que teria com ele.

Caminhamos mais um pouco, até ele finalmente pedir uma pequena parada. Sentamos novamente na grama macia e voltamos a observar as árvores graciosas, enquanto contávamos piadas alegres e inocentes. O tempo logo passou rápido e as estrelas já começavam a aparecer. Assim que o céu ficou completamente estrelado, ele pediu para que retomássemos a caminhada.

Andamos por debaixo de mais algumas árvores, atravessamos uma pequena ponte com direito a uma parada no meio dela, para observamos o local em volta. Após isto, continuamos nossa caminhada, passando por um caminho estreito e com muito mais árvores. Avistamos uma montanha e encontramos um pequeno caminho feito de pedras que nos levava para o topo dela.

- Vamos subir! – disse-me, estendendo sua mão para me ajudar. Aceitei delicadamente, embora não achasse necessária a ajuda. Seguimos o pequeno caminho de pedra e quando finalmente chegamos ao topo da montanha, ele anunciou. – Chegamos.

Olhei em volta. Havia uma enorme cerejeira em flor exatamente no meio da pequena montanha, e de lá de cima era possível ver todo o parque. Parecia que todas as árvores juntavam-se em uma só, uma cena linda. Outra cena digna de uma lindíssima pintura. Ah, quem era eu tivesse esse dom! Teria criado milhares de telas só naquele dia.

Sentei-me em baixo da grande árvore e observei toda a paisagem atentamente, como se ao menos pudesse criar uma tela mental, e pudesse guarda-la eternamente em minha mente, embora soubesse que algum dia esqueceria. Absorta olhando para a paisagem, nem reparei quando ele sentou-se ao meu lado. Somente notei sua presença, quando me perguntou o que havia achado.

- Não gostei! Amei. É lindo! Obrigada por me dar a oportunidade de conhecer este lugar! – mostrei-lhe o mais belo dos sorrisos que eu conseguia fazer, ele sorriu em resposta e afagou novamente o topo de minha cabeça. Assim que o mesmo terminou o ato de carinho, apoiei minha cabeça em seu ombro e comecei brincar levemente com sua mão, entrelaçando nossos dedos.

E então, o silêncio reinou. A hora de voltarmos estava se aproximando e nenhum dos dois tinha coragem de comentar sobre tal coisa e iniciar a sessão de despedida, contudo ambos sabíamos que uma hora teria de acontecer. E a hora havia chegado.

- Está tarde. – comentei tristemente e o olhei novamente. Sem dizer, nada, apenas assentiu.

- Já está na hora de irmos. – disse-me após alguns segundos de um silêncio perturbador. Assenti levemente.

Levantamo-nos então e nos abraçamos fortemente. A despedida era, definitivamente, a pior parte e nenhum dos dois era forte o suficiente para ela. Lágrimas começaram a escorrer por meus olhos, mesmo que sem minha permissão. Seus braços se estreitaram ainda mais ao redor de meu corpo. Era difícil, mas estava na hora.

- Quando o verei de novo? – perguntei em voz baixa.

- Não faço ideia. Mas espero que seja em breve.

- E quando terei a oportunidade de conhecê-lo no mundo real?

- Ah, isto teremos que esperar ainda mais. Mas, relaxe, ainda nos encontraremos, é só questão de tempo.

- Queria que fosse logo.

- Eu também, mas não podemos nos apressar, Deus tem tudo programado. – disse-me antes de finalmente nos separar, em seguida depositou um beijo em minha testa. – Tchau, minha pequena flor. Lembre-se sempre que eu te amo e sempre irei te amar.

Após estas palavras, minha visão escureceu completamente, como num desmaio, e um barulho estridente se fez presente. Estiquei meu braço e, com força, desliguei meu despertador. Sentei-me na cama, enquanto coçava preguiçosamente meus cabelos. Eram 06h da manhã.

Suspirei cansada, enquanto me preparava psicologicamente para mais um dia de trabalho. E, enquanto tomava café da manhã, pensava em mais um sonho que eu havia tido com o mesmo rapaz de sempre. Era incrível o quanto aqueles sonhos eram reais, e eu quase acreditava que aquilo estava acontecendo e que aquele rapaz realmente existia. E por algum motivo sobrenatural meus sonhos com ele sempre me faziam muito bem, pois eu me sentia realmente amada, coisa que eu nunca senti e iria sentir aqui, no mundo real.

Para ser sincera, eu realmente esperava que todos aqueles sonhos com ele pudessem ser reais, esperava que ele existisse, e que sua promessa de que um dia nos encontraríamos fosse cumprida.

Contudo, lá no fundo, eu sempre soube que tudo aquilo, inclusive as sensações e os sentimentos, nada mais eram que sonhos.


Simples sonhos de uma mulher solitária.

1 comentários:

Unknown on 3 de novembro de 2015 às 13:26 disse...

Merecia um arco...da pra explorar muito essa história :3

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