sábado, 2 de janeiro de 2016

O Ladrão

Postado por Unknown às 14:50
(Yazawa Nico - Love Live)

Há muito tempo atrás – nem tanto assim, pra ser sincera -, enquanto eu ainda estava no ensino médio, aconteceu uma coisa comigo que nunca mais esquecerei. Uma coisa que marcou minha vida, minha história. E eu lhes contarei agora.

Um dia, como outro qualquer, acordei feliz e animada, e, pela primeira vez, ansiosa em ir para o colégio, pois naquele dia eu finalmente teria algo para comer durante o intervalo das aulas. O lanche que havia comprado no dia anterior era um delicioso pote de batatinhas no sabor creme e cebola. E olha vocês não fazem ideia do quanto eu lutei para não comer tudo na hora, afinal as batatinhas eram (e são) deliciosas. A vontade que eu tive foi de abrir aquele pote e comer tudo na hora, mas tive que ser forte, já que se eu fizesse isso não teria lanche para o dia seguinte.

Lembro que naquele dia tomei café da manhã, botei as batatinhas em outro pote que coubesse na mochila e rumei para a escola, ansiando o horário do lanche. Lembro-me também o quanto o tempo estava vagaroso. A hora simplesmente não passava, parecia que faltava uma eternidade para o intervalo. Meu estômago, minha boca, meu corpo clamavam por aquelas batatinhas que não comia há muito tempo. Sentia que ia enlouquecer naquela sala de aula.

E, finalmente, depois de quase um século esperando pelo intervalo, havia chegado o horário dele. Saí praticamente correndo da sala de aula, desci as escadas o mais rápido que a multidão de alunos me permitia e sentei-me nos bancos do refeitório. Olhei para o pote de batatinhas, meus olhos deviam estar brilhando, comecei a sentir a felicidade tomando conta de todo o meu ser. E, então, chegara a hora de abrir o pote e apreciar o meu delicioso lanche.

Dei a primeira mordida. O momento foi mágico. O sabor de creme e cebola se espalhou em minha boca e me trouxe uma sensação incrível. Ah, como eu estava com saudades de comer aquelas batatinhas!

Continuei comendo as batatinhas, devagar, sem pressa, apreciando o sabor, a textura, cada pedaço daquela coisa divina. Estava quase terminando de comê-las, o intervalo já estava chegando ao fim também, quando uma ligação de minha mãe interrompeu-me. Contudo, não fiquei brava, atendi alegre e animada, estava feliz. Muito feliz. Nada naquele dia poderia estragar minha felicidade. Ou era isso o que eu pensava.

Enquanto conversava com minha mãe, observando minhas últimas batatinhas e pensando em qual lanche eu deveria comprar da próxima vez, um garoto (mais novo que eu) simplesmente se aproximou, pegou minhas batatinhas e as comeu na minha frente. Fiquei pasma. Não acreditei no que estava vendo. Olhei fixamente para o rapaz, eu realmente não acreditava que ele estava fazendo aquilo. O mesmo virou para o amigo que estava com ele, falou algo e foi embora para outro lugar.

Minha mente gritava: “Como assim?”. Como ele teve coragem de pegar minhas últimas batatinhas? Sem nem ao menos pedir! E o pior, eu nem ao menos o conhecia.

O tempo ao meu redor se fechou. Nuvens nubladas se formaram ao meu redor. O meu humor ficou péssimo. Voltei a conversar com minha mãe, completamente indignada. Contei o que havia acabado de acontecer e ela riu. Ela riu! Chamou o garoto de maluco e falou que não tinha problema, depois ela me compraria mais batatinhas.

Contudo aquilo não me animou. Eram minhas últimas batatinhas! Como ele teve coragem de fazer aquilo? Eu estava tão feliz aproveitando-as. Tão feliz. E ele teve o prazer de estragar minha felicidade. Mas, tudo bem, passado é passado. Coisas da vida.

Voltei para a aula, emburrada e triste, completamente sem ânimo para assistir os próximos tempos. Deite-me na mochila e esperei o tempo passar, dessa vez ansiosa para ir para casa e tentar esquecer aquele dia.

Depois disso, nunca mais vi o rapaz. Sorte a dele.

O tempo passou. Formei-me e ingressei na faculdade. Muitas coisas aconteceram durante este período, mas nunca me esqueci do dia em que minhas batatinhas foram cruelmente levadas de mim.

E, em um dia normal, como outro qualquer, enquanto caminhava pelo pátio da faculdade em direção à aula, o vi novamente. Ele estava parado, rindo com os colegas, completamente desatento a tudo ao seu redor. Passei por ele, olhando-o fixamente e o chamei de ladrão de batatinhas. O garoto, agora rapaz, me olhou sem entender nada. Claro, ele se esqueceu do que havia feito no passado. Sabia que isso aconteceria.


Ele pode ter esquecido, mas eu nunca me esquecerei do fato de que ele é um ladrão de batatinhas!

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